De como dois paulistas se aventuraram pelas Guianas, e da influênca que isso teve em suas visões da Paulicéia
Há uns meses aí, fiz uma viagem. Da primeira parte desta, fiz um post com detalhes ( ei-lo ). Depois disso houve entregas de trabalho, contratempos, eleições e virei pai. Agora volto.
Tal viagem faz parte de um projeto que tenho com amigos. Se chama Task Force, e tem duas finalidades: 1) conhecer todas as capitais do Brasil e 2) como em Jornada nas Estrelas, ir audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve . A primeira para poder criticar o país com mais propriedade. A segunda, para poder refletir mais sobre o rumos da pátria no mundo, pois quanto mais longe de casa, mais se pensa nela. E as Guianas, embora logo ali, são de um desvario tal, parecem constar nalgum outro continente.
Fizemos roteiros diferentes. Eu fui para Belém. O Mendes, para Macapá, Oiapoque e Guiana Francesa. Nos encontramos na capital do Suriname ( Paramaribo ), onde apenas pernoitamos, a fim de pegar o voo para Georgetown cedo no dia seguinte
Já havíamos estado na Guiana ( mais detalhes AQUI ). Eu, mais o Mendes e o Edu, que dessa vez não pode ir porque sua tartaruga passou mal, ou porque não conseguiu folga no serviço, não lembro. Mas pena. Enfim…nos impressionamos tanto com o surrealismo desse pequeno coadjuvante do Atlas do tempo de escola, dos Estudos Sociais, que decidimos voltar. Voltamos. ( Menos o Edu porque… ).
Durante o planejamento, foi decidido que dessa vez radicalizaríamos. A viagem não seria a uma cidade de fronteira ( Lethem ) como outrora. Dessa vez iríamos ao cerne da balbúrdia, à capital: Georgetown. E de novo, o surreal se fez presente. Dessa fez, em mais incríveis proporções.
1) Os canais que permeiam Georgetown, pois abaixo do nível do mar. Cortesia dos holandeses ( quem mais ? ) 2) Uma estátua esbanjando virilidade 3) Banks, a cerveja nacional. É ótima. 4) Guianenses não precisam de réguas ( detalhe: estacionamento da assembléia nacional ) 5) Típico passeio de Georgetown: sempre obstruído por algum tipo de entulho 6 ) O único habitante do país que nos sorriu
Saímos de São Paulo, e viajamos 3500 quilômetros para chegar…. na Praia Grande. Uma coisa arrumada aqui, outra lá, entre casas meia boca e areia esparramada nas calçadas, esperando por algum improvável pedreiro, que por certo pedira arrego ao calor inconcebível. Na real, bem pior que a Praia Grande, porque esta vai para a frente, por conta do turismo paulistano. No caso de Georgetown, a cidade parece estar em inércia, provavelmente de algum pontapé passado, dado pelos ingleses / holandeses, que deixaram para trás uma arquitetura matadora.
Arquitetura foderosa e descaso absurdo. Marcas registradas de Georgetown
Georgetown foi planejada. Tem um belo sistema de canais de irrigação ( está abaixo do nível do mar ) e as ruas e quarteirões foram pensados, o exato oposto de São Paulo. Mas diferente de São Paulo, o lugar não tem dinheiro. O motivo, creio eu, pode ser identificado no nome do país; República Cooperativa da Guiana. É aquele velho preconceito, segundo o qual, “tudo pelo social ” é a solução para todos os problemas. No caso, criou uma sociedade igualitaria até, onde ninguém é paupérrimo, porém, onde tudo parece funcionar ainda nos moldes do século doze. E, claro, onde não se gera riqueza.
Seria a Pepsi a única chance de uma estrada sinalizada ?
Por fim, existe ainda a população negra, hindu e chinesa, para quem a cordialidade pessoal parece ser abstração. Parecem desconfiados ( resquícios da escravidão ? ). Ou será que faltou pai ? Alguém que inventasse a identidade nacional calcado nesse ou naquele mito ou filosofia ? Ou ainda, um conjunto de forças que desse um norte e senso de unidade ao povo, como é caso do Brasil, e sua santíssima trindade ( Estado, Igreja e Rede Globo ) ?
Olha o Mendes, registrando a natureza local. ” Eu prefiro Itanhaém “, concluiu em um suspiro
E foi assim racionalizando sobre a Guiana, que pegamos a balsa e atravessamos a fronteira em direção ao Suriname.
No próximo Episódio: de como nossos heróis ( já cristãos ) tentaram ser convertidos ao cristianismo por um família de indianos evangélicos. Do grande mistério que é o Suriname. E do que encontraram por lá.