Parte do meu trabalho no Ilustre Sp é decidir o que desenhar. Há requisitos. Deve ser algo que: 1) eu tenha vontade de fazer, 2 ) seja além do ordinário e, desde que decidi pagar as contas com isso, 3) seja relevante à maioria. Por isso testo as ideias com quem geralmente está ao entorno. Geralmente é a mulher.
Fui lá eu perguntar se eu fazia o Itália, o Martinelli ou o Copan e ela:
-De novo prédio ? Pinta alguma outra coisa ?
-Outra coisa tipo o quê ?
-Sei lá, tipo uma rua.
Não foi má ideia, pelo contrário. Nunca pintara uma rua. Já a Paulista, que não conta, porque avenida.
Conversa veio e foi e acabou-se em três: a Avanhandava, a Oscar Freire e a Augusta.
A Avanhandava é um mimo, verdade. Mas tem um ar de ” venham ver que coisa fofa “, meio cheiro de excursão. E eu sou avesso a turistagens.
Óóóunnn…
A Oscar Freire já de cara imaginei ser muito boy, mas não é lá bem assim. A rua é bem feita. Tem design. E, distorções de valor à parte, tem mais PIB que muito estado lá de cima. O que a torna interessante, porém deveras exclusiva para a pauta em questão.
Um dia ainda desenho a Oscar Freire. Mas primeiro, quero deixar meu traço mais bonito para fazer jus à sua gente
Já a Rua Agusta é grandiosa e imponente, como o próprio nome diz. E não poderia ser mais ilustre; uma das artérias que ligam o centro aos Jardins, cruzando a Nobre Paulista e, inclusive, uma das supracitadas ( a Oscar Freire ), fazendo esquina com a outra ( Avanhandava )
Por fim, a Augusta é louca para os loucos, como pode ser caretas para os caretas. Tem Augusta para todo mundo.
Eu, por exemplo, fui muito ao Vegas, de onde saia Augusta acima, não raro ubriaco, tropicando em frente a inferninhos. Na porta de um desses, havia sempre um Ogro miniatura, querendo me puxar esbórnia adentro. O cara me era Uruguaio ainda por cima. E ficava ” Mujeres muy buenas , bênga bêr, bênga bêr “. Entrei uma vez. Não era a minha.
Um amigo, em contrapartida, garantia ter entrando já em todos. Alguns, duas vezes. Em outros, várias. E ao Vegas nunca fora.
Enquanto isso, patrões, funcionários, ricos, pobres, coxinhas ou não, nem ligavam para essa faceta da rua, pois lhe guardavam outros usos: serviços, negócios, estudos, gastronomia. Sem dúvida que se alguma rua em São Paulo merecia um retrato era essa. Mas como se retrata uma rua ?
Para mim, um desenho, do que quer que seja, tem que captar a essência do que está retratando. A alma da Augusta é sua diversidade e raridade geográfica. Para retratar o geográfico, rascunhei uma geometria focando a subida da rua, do centro à Paulista:
E sua descida, da Paulista aos Jardins:
A questão da diversidade provavelmente será resolvida através das cores. Quente para o respeitável das boutiques e comércio diurnos e frias para as esbórnias e excessos noturnos.
Para ser mais diverso ainda, a gravura deverá funcionar ao gosto do freguês. Será possível colocá-la na parede assim, como acima, ou assado:
A ilustração final está longe de completa. Esses são apenas os estudos preliminares. Não bati o martelo sobre a paleta de cores, aliás. Abaixo algumas alternativas. Sugestões são bem vindas.
Em breve voltarei com a gravura finalizada. Aos interessados, essa não deverá ser uma série numerada. Afinal, tem que ter Augusta para todo mundo.
Logo menos tem mais